quinta-feira, março 31, 2005

Sobre os anos 80


Se teve alguma coisa boa vinda dos anos 80 você deve isso à Guerra Fria. Tão fria que todo mundo quase morreu de tédio. Alguns dos mais impressionantes avanços tecnológicos foram por causa da briga idiota entre americanos e russos: “Eu tenhoooo, você não teeeem!!!”. A Guerra Fria era assim: um americano e um russo entravam no banheiro pra urinar e um ficava olhando pro foguete do outro pra saber se era nuclear ou não. Depois de muito espiarem um ao outro, percebiam que ambos eram nucleares. E levantavam. Um em direção ao outro. Espiões gays fizeram a festa na Guerra Fria. Terá sido essa a gênese da idiotice e boiolagem americanas?


Eu acho que fui a melhor coisa surgida nos anos 80. Por aí você tira o resto. Se meus pais tivessem mandado ver 2 anos antes eu teria nascido nos anos 70. Isso seria até interessante. Mas não. Eles me botaram no mundo num momento em que jogadores de futebol passavam vaselina na virilha pra não ficarem estéreis depois do jogo. Não era mais fácil usar um uniforme mais confortável?

Meu pai era magro. E tinha cabelo. Preto. Estranho. Mas ninguém merece aqueles óculos Ray Ban casco de tartaruga. Aqueles do Stallone Cobra. Aliás ninguém merece o Stallone. Se bem que ninguém merece nenhum filme dos anos 80. A televisão dos anos 80 era igualzinha à de hoje: era ruim demais. Só que eles eram engraçados. O que era aquele cabelo do Sérgio Chapelin? Os Trapalhões eram um barato. Eu gostava do Bud Spencer e do Terence Hill. Piquet era o cara.

Mas – aspecto notável – os anos 80 foram os anos do “quase”. Eles quase fizeram coisas notórias. Quase entraram pra história com grandes feitos. Quase que o Jeff Beck gravou um disco bom. Quase foram tão corajosos quanto a moçada dos anos 70. Quase foram ousados...

Injustiça minha! Eles ousaram bastante. Em que outra época da humanidade alguém teve coragem de fazer uso tão profundo de uma estética tão deprimentemente exagerada? Quem mais pôde se contentar com tão pouco? Em que outra época tiveram um terreno tão propício pra fincarem as raízes de um consumismo tão barato? Em que outra época minha mãe usaria umas roupas tão frouxas?

Não sei... Talvez por causa do cansaço. Vietnã, napalm, contracultura morrendo, Kennedy, ditadura. Isso aí foi a pá de cal que apagou o fogo. E foi a pá de carvão que acendeu a AIDS, as drogas sintéticas e a Xuxa.

Produtores artísticos brasileiros se tocaram nos anos 80 de uma coisa que Frank Zappa dizia desde os anos 50: era possível fazer muito, mas muito dinheiro se pudessem criar mecanismos de massificação de uma cultura que fosse rapidamente consumida e que isso abrisse rapidamente o caminho pra uma nova demanda. Algo como gafanhotos culturais.

“Meu ursinho bláu-bláu! Úi, bláu-bláu!”

Não que hoje seja muito melhor. Mas pelo menos temos uma solução: internet. Eu ainda acho que não usamos nem 30% do poder da internet. Ela é como o Velho Oeste: uma terra sem lei. Pelo menos por enquanto. Como no Velho Oeste, nela podemos ir e vir. Mandar e trazer. Vagar como bom pirata. Com ela estamos podendo plantar a semente de uma cultura: algo que podemos sustentar e divulgar sem esperar pela boa vontade da televisão. Finalmente chegamos à porta do paradoxo que queriam nos anos 70: um underground à luz do dia. Ou dos monitores.

Mas eu confesso: sinto falta do João Penca e seus miquinhos...

segunda-feira, março 28, 2005

De repente...

- ...o Piauí me parece mais aprazível
- ...as coisas ficaram mais azuis
- ...bateu uma saudade desgraçada da Liliana
- ...me toquei o quanto devo às influências de gente como Joseph Zinker, meu pai, Roger Waters e Jeff Beck

domingo, março 20, 2005

Esse sim é o cara:

sexta-feira, março 18, 2005

A faculdade de psicologia...

...é a parte ruim da formação de um psicólogo.

quinta-feira, março 17, 2005

Pessoas, momentos e arrependimento


Pessoas erradas no momento certo
São como um tiro de raspão:
O lamento é mistura de alívio com preocupação.

Pessoas certas no momento errado
Nos fazem desejar que o tempo logo passe.
Ou pelo menos desejar que o outro se atrase.

Pessoas certas no momento certo
São pessoas certas no momento certo
O que mais esperar?
Pra mim isso não basta. Eu quero também amar.

A pessoa errada no momento errado
É como um estranho que você rejeita
Você anda rápido antes que ele o veja

O momento errado com pessoas erradas
É sempre muito vivido.
Parece sempre tão novo, ainda que antigo.

É como um corte no rosto que eu finjo que não vejo:
Eu bem que fujo, mas eu vejo no espelho.

Errado estou, erradas pessoas, errados momentos.
Confesso: eu também tenho arrependimento
E arrependido gritarei quando a bala me pegar de raspão
Mas àquele que sobreviveu ao ataque do Sol
O arrependimento será só um arranhão.

segunda-feira, março 14, 2005

Curtinhas das últimas semanas:

1- Quanto mais eu rezo, mais evangélicas me aparecem. Nããã!!!
2- Ô negada pra gostar de comédia é esse povo do 1º semestre!
3- E Nietzsche, como sempre, falou melhor do que eu: "Por fim, amamos o próprio desejo, e não o desejado."
4- Quando eu vejo pequenos focos de incêndio fico todo feliz achando q finalmente o mundo vai pegar fogo. Doce ilusão. Amargamente doce .
5- Dizem q deus é amor. Mas é amor demais pro meu gosto.

Por que você morreu antes de me encontrar?
Se aqui sim é o lugar de morrer e de matar?

Por que você morreu antes de eu te encontrar?
Eu achei que podíamos juntos procurar...

Por que você morreu antes de me encontrar?
Eu sei que não podia fazer sua vida se prolongar...

Mas eu acho que tinha tanto a aprender com você.
Tanto a sossegar, tanto a caminhar, tanto a correr
Mas cadê você?

Não, eu não queria te dar uma cura
Mas talvez pudesse abrir porta da rua
E te ver caminhando, caindo, levantando,
Perdendo, achando... Experimentando!

E seria muito fácil dizer que outros como você virão
Esse fácil seria falso. Não confunda, não!
Pois você era absolutamente você
Mas por que você foi morrer?

Não podia ter mudado o começo e o meio do conto
Mas podíamos ter feito um final outro antes do ponto
E em que ponto você se perdeu antes de eu te encontrar?

Mas talvez fosse injusto pra você ficar mais tempo aqui
Mas eu nem pude te ver antes de você partir
Eu acho que podia ter aprendido com você nessa sua estrada
Estrada de pedra, rachada, esburacada

Mas era a estrada que você tinha
Era o que você podia
Fugia
Subia
Descia
Morria

E agora morreu mesmo. E por quê?
Por que você?

sábado, março 12, 2005

Afirmo...

...q eu devo ser algum tipo de psicopata, pois eu ando me divertindo cada vez mais com as carroças q pegam fogo na minha própria caravana.

quinta-feira, março 03, 2005

A estagiária de psicologia (parte 1)

- Mariana, gostei muito da sua idéia, disse o presidente da companhia dando carta branca à sua recém-contratada estagiária.
A idéia não era mesmo ruim: criar grupos com os gerentes de cada loja para que eles dividissem as experiências boas e ruins de promoção de vendas. Mas o fato é que o chefe recusou idéias de outras funcionárias antigas par acatar a proposta da estagiária. Poderosa por um instante. Foi assim que Mariana se sentiu.
Dois dias se passaram e ela encontrava-se numa loja da rede. Essa loja era na periferia da cidade e seu chefe raramente ia até lá. Pois por uma estranha coincidência ele foi até lá naquele dia. Estranheza generalizada entre os funcionários.
Quinze minutos depois ele a chama na sala da gerência. Estavam a sós. Ofereceu-lhe uma cadeira e sentou noutra à sua frente.
- Como andam os projetos?

- Vão bem.

- Sente-se bem aqui?
- Sim.
Regra geral: respostas femininas curtas abrem espaço para argumentos masculinos poderosos e consistentes.
- Bom saber disso, pois creio que seria muito bom para empresa, disse-lhe erguendo as sobrancelhas grisalhas, que ficássemos mais próximos. Tanto que não gosto de vir a esta filial, mas como você estava aqui achei que seria bom estar perto do seu trabalho.
Certas colocações podem nos deixar com a sensação de paralisia. Ainda mais vindas de alguém mais velho, com situação estável e que nos pareça “inalcançável”.
- O senhor veio até aqui ver meu trabalho?
- Sim.
Regra geral: respostas masculinas curtas têm a estranha propriedade de paralisar uma mulher. – Eu acho que você tem muito potencial para a empresa e acho que seu trabalho merece atenção especial.
Estranhamente, ela ainda não havia compreendido até o momento o que acontecia, mas sentia-se imensamente mexida com um homem como ele dizendo aquilo.
- Olha, eu acho que a gente tem que ser mais próximo. Precisamos quebrar a barreira do trabalho e tentar nos comunicarmos de maneira mais direta. Está tensa?
- Um pouco. Não dormi bem.

Ele ergueu-se, sentou-se no chão na frente dela, pegou seu pé e colocou sobre a perna dele. Ela estremeceu da cabeça ao pé – o outro, não o que ele segurava. Ela tinha um homem mais velho, que a fazia se sentir importante sentado aos seus pés.
- Você prefere me ver assim, de cima?
Regra geral: quando um homem está fisicamente numa posição de inferioridade em relação a uma mulher, ele faz perguntas para as quais não espera resposta. E ela adorava a sensação de estar por cima de um homem. E no momento ela estava com um pé sobre ele. Estava pisando no seu patrão. Seu sangue ferveu. Mas seu corpo completamente paralisado. Silêncio. Massagem no pé. Depois nas pernas. E que pernas. Agora arrepiadas.
- Quero que você se sinta segura. Não precisa temer nada.
Mas a essas alturas ela estava tão envolvida que não havia medo que a intimidasse. O velho era fisicamente repugnante, mas a situação despertou o tesão. O beijo foi lento, demorado e romântico. Mas ela subitamente o empurrou.
- Meu Deus! Não devia ter feito isso! Você é meu patrão!
- Calma, podemos separar as coisas! Mas ela saiu da sala batendo a porta.
Não era tesão o que ela sentia. Era algo diferente. Era mais complicado ainda. A situação era conveniente e sedutora, mas a figura do homem era repugnante.
Foi ao banheiro e retornou à sala do patrão. Ele estava apavorado:
- Por favor, não precisava ser desse jeito....
- Deita no chão.
- Mas...
- Deita agora! – e ele deitou.
Ela o pisou lenta e deliciosamente. Ela gemia como se estivesse fazendo sexo de maneira igualmente lenta e deliciosa. Quando deu-se por satisfeita, disse:

- Prefiro ver você de cima – e foi embora.
Ele não a chamou mais até sua sala durante três semanas. Ele precisou de um tempo.