quinta-feira, fevereiro 24, 2005

“Tosco” é a palavra da moda. Estou impressionado com ela. “Tosco” é uma palavra amplamente utilizada pela grande massa acéfala que é a moçada da minha geração. Tosco. Tosca. Tosqueira. E como diria o Veríssimo, essa é uma palavra que diz tudo que precisa dizer. Pra mim, uma coisa tosca é uma coisa toda esfarrapada, feita sem nenhum critério de qualidade. Uma coisa feia. Num certo sentido seria até uma coisa repugnante. Hoje eu ouço falar em roupas toscas, músicas toscas, frases toscas e - é claro - pessoas toscas. E é com grande lamento que informo que observo na juventude atual um fenômeno impressionante. O dito fenômeno, como a maioria das coisas feitas pela minha geração, não é nada de bom: minha geração cultua o tosco


Babau do Pandeiro. Não sabe quem é? Eu também não sabia. Acredite: eu era mais feliz antes de saber. Me disseram que ele era um cara divertido que cantava e tocava pandeiro. Fato: ele não sabe cantar, não sabe tocar e eu não vi nada de engraçado nisso.
Eu perambulo por lugares por aí só pra ver o que a moçada anda fazendo. E ao ver o que esse pessoal anda fazendo, começo a me lembrar com saudade do tempo em que as pessoas achavam ridículas as roupas dos seus pais. Mas como desgraça pouca é bobagem, hoje eu vejo o pessoal usando roupas dos seus avós e com cortes de cabelo que devem ter sido feitos com tesouras cegas de jardim.

Os caras devem passar cera automotiva pros cabelos ficarem tão armados. Dreadlocks (é assim que se escreve?) são um show, tirando o fedor. Talvez a galera até curta o fedor. Cabelo maçaroca tipo dos Jackson 5 é lindo. Babau do Pandeiro é cult. Ter um All Star surrado é a glória. Eu quero morrer.
Certo, certo, eu sei que eu estou sendo um cara chato. Eu sei que Bush, Hitler e gente do tipo disseram que o legal é andar penteadinho, cheiroso, com os cadarços amarrados, ir à missa aos domingos e polir a fivela do cinto. Mas minha geração tem encontrado um jeito estúpido de lidar com o Hitler e Jesus disseram: eles entram solando com os dois pés nos tornozelos de gente careta como eu.

Você imagina o fedor que é um cabelo arapuca daqueles? Já pensou como deve ser desconfortável andar com um tênis tão velho que a sola é mais fina que as meias? Uma meia vermelha e outra verde, claro. Você já viu um metaleirinho todo de preto - com direito a um sobretudo - no meio do centro da cidade? Parece o Darth Vader. Outro dia vi um que tinha um sino pendurado na bota. Sim, uma bota. Em plena tarde fortalezense. Imagina o sino. Imagina o cara andando: bé-lém-blém, bé-lém-blém.

Não, eu não estou aqui pra dizer a eles que tirem essas roupas e vistam-se como fossem a uma missa. Eu só estou escrevendo isso pra dizer que o culto ao tosco é uma das muitas coisas que me faz ter vergonha da minha geração. Sinto vergonha de saber que as pessoas vão ver “filmes de arte” franceses. Na falta de talento pra se contar uma história original, preferem chocar o público. Filmes idiotas feitos por diretores e autores sem talento que se escoram única e exclusivamente em cenas com imagens fortes – como sexo selvagem, por exemplo. E depois os idiotas debatem exaustivamente sobre o filme. Meus amigos, vão transar. Como eu já disse em uma antiga poesia minha: não se deve discutir sobre sexo e filosofia. É melhor fazer do que discutir.

A impressão que eu tenho é que a minha geração cultua o tosco por pura falta de espaço dado a quem realmente sabe fazer as coisas. Tem pessoas que sabem pintar. Outras saber dançar. Outras conseguem realmente cantar sem playback. Sim, existem trabalhadores incansáveis, verdadeiros artistas que se esforçam pra apresentar um trabalho com cuidado e carinho. Existem pessoas que trazem a nós uma produção com muito esmero e que você quase pode sentir o cheiro do suor do trabalho delas. Elas ralaram pra te mostrar isso. Sim, ainda existem pessoas que se esforçam por um ideal muito elevado.

A tosqueira é um modo irresponsável de se fazer protesto. É irresponsável por fazer com que as pessoas parem. É melhor ficar parado rindo da tosqueira do que arranjar seus próprios meios de protestar e produzir.O culto ao tosco é um sintoma da covardia da minha geração.

E eu devo dizer que tenho um amigo inseparável: o dicionário Houaiss. É com um grande pesar que comunico que o Aurélio não faz mais parte do meu cotidiano. Houaiss me é menos sisudo, menos chato e até me diverte. Segundo o meu referido amigo, uma coisa tosca é uma coisa mal-acabada.

Certo, se eu já sabia o que era uma coisa tosca, você deve estar se perguntando por que raios eu fui ver isso no Houaiss. Fui só ter a certeza de que sou um cara preconceituoso pra caramba. Mas também serviu pra eu ter a certeza de que faço parte de uma geração de pessoas estúpidas.

sábado, fevereiro 19, 2005

Continua o aviso:


Tua piscina tá cheia de ratos e o tempo não pára.

Uma carroça pega fogo, mas a caravana cigana não pára.

Uma corda quebra, mas troca-se de guitarra e o show continua.

A o pneu fura, mas eu troco e termino o treino.

Tudo passa. Mas eu tô aqui, inteirinho. Apenas alguns arranhões.

O vento bate, a tempestade desaba, o mar se agita...

Mas a pirataria continua.
Sempre.


E o mundo ainda não pegou fogo. Mas eu continuo na torcida.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Crônica das férias de um maracanauense


Fatos das minhas férias: eu tive uma tremenda desilusão amorosa. A farmácia dos meus pais faliu e eles vão morar a 500 quilômetros de nós. Meu irmão e eu vamos morar sozinhos. Eu emagreci 4 quilos. Nada que esteja abalando muito nossas estruturas. Mas eu me preocupei mesmo só agora em fevereiro depois que percebi que meu irmão coloca o celular dele pra despertar sempre às 4 e meia da tarde e depois corre pra televisão. Estranho. Hoje percebi que ele faz isso pra não perder a Malhação. Efeitos de 3 meses de férias. Isso mexe com as funções psicológicas superiores. Deve até mexer no desempenho sexual. No seu.


Não sei se todos detestam férias – eu só posso falar de mim. Quinze dias de férias são ótimos. Depois disso eu começo a trocar a noite pelo dia. Se eu assisto televisão pela madrugada? Digamos que eu acompanhei todos os seriados americanos que o SBT exibe até as 3 da madrugada. Além do Fim de Noite. Só filme massa. O Jô agora é muito chato. Deviam demitir o gordo e colocar o Derico no lugar dele. Nem os olhos vermelhos da Ana Paula Padrão melhoram um humor. (Alguém já falou pra ela que tem gente que não pode usar lente de contato?)
Nos primeiros dias de férias eu sempre colocava o meu despertador pra me acordar às 7 da manhã. Era só pra ter o prazer de olhar pra ele com uma cara de maníaco homicida, desligá-lo e dormir de novo. Ele me acordou de maneira violenta e deselegante durante o ano todo. Vingança é um prato que se come frio. E depois a gente dorme.
A falta do que fazer apertou ainda em novembro e eu comecei a pedalar de novo. Eu amo a serra de Maranguape e lamento estar indo morar longe dela. Eu estava bem barrigudinho e perdi 4 quilos.
Ainda em dezembro descobri pra que servem aqueles corações, cubos e carinhas do orkut. Eu sou todo 60%. Isso é uma merda. Isso quer dizer que eu sou um ser desprezível. Se fosse só 10% ou 20%, eu pelo menos seria uma pessoa detestável. Se fosse 80% ou mais, eu seria um camarada bacana. Mas não. Sou 60%. Nem lá nem cá. Não sou nada de excepcional. Sou um ponto material: tenho massa e dimensões desprezíveis. Como não havia nenhum galão de Prozac por perto - e eu estou me adaptando à vida de solteiro - me toquei de algumas coisas:
1- uma garrafa de vinho espoca-bucho custa R$ 3, 80;
2- 2 horas num motel vagabundo custa R$ 10;
3- sair com uma criatura cujo nome começa com “A” (Andréia, digamos) custa só uma ligação
4- as três coisas juntas não têm preço. Mas vem na fatura do meu Ourocard.

Acabei de me tocar que essa criatura foi minha companhia mais constante nessas férias. Quem mandou ter o nome começando com “A”? Não vi a Zuleica nessas férias. Se bem que só vi a Bianca uma só vez. Estranho. Vida de solteiro é movimentada. E ingrata, sob certos aspectos.
E lá veio o natal. Tentei ficar sozinho em casa, mas os convites eram tentadores: um pagode no meu vizinho e reunião da família na casa da minha tia-avó. Dúvida cruel. E no segundo tinha minha bisavó de 94 anos com a perna quebrada. A comida na casa da minha família parecia melhor. Uma dose de cana com meu avô é sempre imperdível. E lá tinha a cadeira de rodas da minha avó pra eu dar uma voltinha. Não resisti.
Liguei pra alguns amigos pra desejar feliz natal. Notei que ninguém ligou pra mim. Estranho. Ganhei um cofrinho de lata com desenho do Piu-Piu no amigo da onça. A cachaça era de Redenção e envelhecida quase 40 anos. Meu avô é de Iguatu e envelhecido quase 70. Se melhorar era capaz até de virar uma festa. Mas o espaço pra pilotar a cadeira era pequeno. Saiba disso: beber cachaça da serra e andar de cadeira de rodas é que há de mais moderno em termos de aventura. Me contentei em voltar de moto pra casa. Mas não é a mesma emoção. Existe cadeira de rodas com motor bicombustível?
E lá veio o reveillon. E lá vem 2005, que de tão esperado, já era velho.Velho mesmo estou eu, que ainda acreditei que ex-namorada pode deixar de ser ex. Passou.

E como desgraça pouca é besteira, lá veio carnaval. Me tranquei em casa durante o dia. Mas saía pra fazer a ronda durante a noite. À noite, todas as gatas são pardas. Se você apagar a luz, só ouve o miado. Quando acende a luz, só vê os arranhões.
Pensei muito sobre esses caras que têm som no carro. Um amigo meu gastou 20 mil reais – você leu corretamente – pra montar o som do carro dele. Havia uns camaradas com umas coisas dessas por perto da minha casa. Notei que vários deles não podiam beber uns copos a mais que começavam a pegar nos bilaus dos amigos. Fiquei imaginando que todo cara que tem som de carro tem o pinto pequeno ou ele não funciona. Talvez as duas coisas.
Já pensou se me aparecesse um cara desses pra eu atender na clínica?
- Doutor... Assim... Eu tenho som de carro sabe? Acho o máximo quando fica todo mundo olhando pro carro... Sentindo o som penetrando neles... Meu som é enorme! Ele funciona sempre!!! Nunca falha!!!
Creio que há 3 rumos possíveis para a terapia nesse caso:
1- o cara se toca que com tanto dinheiro que gasta com som, é melhor gastar com Viagra;
2- o cara se toca que é gay, vende o som do carro e paga a cirurgia de mudança de sexo;
3- o cara tem um insight: “Meu pinto é pequeno, não funciona, mas é meu”.

De qualquer maneira, passei ileso pelo carnaval.

As aulas não começaram ainda. O SBT tá reprisando a temporada de Felicity. O Jô continua um saco. A Nazaré não me parece tão má assim. Tal mãe, tal filha é um enlatado legal que só. As frases são curtas. Diálogos rápidos. Quando começa O Aprendiz 2? Deus nos Acuda é a pior novela de todos os tempos. Pedalei quase 2.000 quilômetros. Ex boa é ex morta. O Sandoval tá pegando a Lavínia. E o Amarante não morreu! Ainda acho Los Hermanos uma banda muito chata. Meu irmão – aquele que assiste a malhação – passou no vestibular. Pra direito. Direito e Malhação. Qual é o futuro do judiciário no Ceará?

quarta-feira, fevereiro 09, 2005

É carnaval.

E eu fico impressionado com escolas de samba. Fico bestificado ao ver q todo aquele lance é sustentado com dinheiro de tráfico de drogas dos morros e comunidades das respectivas escolas. Quanta grana, não é? E tudo funciona pra encher de grana o bolso dos dirigentes das escolas e pros traficantes se passarem por benfeitores na comunidade e poder transar com as passistas q quiserem.

E o lance de tráfico de drogas e prostituição (muitas vezes infantil) q rola na cidade durante o carnaval? Imagina as montanhinhas de coca q rolam nos bastidores daqueles camarotes VIP.

Então vamos raciocinar: para os traficantes, é um ótimo investimento. Eles patrocinam a festa e lucram 3 vezes mais com o q vendem de coca pros idiotas e ainda lucram com a prostituição - afinal, todo bom traficante é cafetão. E ainda se divertem na Sapucaí, claro.

Vamos pra frente, pois o tempo "ruge" e a Sapucaí é grande. Assim como a vida.

E lembrem-se: até para os traficantes o dionisíaco é inevitável.

segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Sim, ele é inevitável...

...no sentido de q mais cedo ou mais tarde ele virá. Vc pode até afastá-lo, retardá-lo, atrasá-lo. Mas em algum momento vai pisar na lama em dia de chuva. Vai se queimar em algum momento quando brincar com fogo. Em algum momento até mesmo o Jeff Beck vai desafinar um bend e o melhor trapezista do mundo vai errar.

Mas podemos acertar tb, não? Jeff Beck não se faz pelos erros, mas pelos acertos. Nem toda rua tem poças de lama e nem em todas vai passar um motorista sacana q te molha de propósito. O trapezista vai lá e acerta. E mesmo q erre, tem a rede. Aí ele sobe e faz de novo.

Pode ser. Pode não ser.

Pode.

A possibilidade não é boa nem ruim. Ela é possibilidade. É inocente.

terça-feira, fevereiro 01, 2005

Direto do universo paralelo.

Estou num cyber café. Estranho. Não é meu computador. Teclado esquisito. E é novo. Prefiro sapatos velhos. A cadeira é tão confortável q estou quase com vontade de ficar só de cueca e passar a tarde por aki. A diferença é q lá eu coloco as pernas sobre a mesa e o teclado no colo. Mas esse teclado é chique demais pra isso. Meu colo não merece. Nem o teclado.

Eu tô mesmo invocado com esse teclado. Tem tanto botão q eu acho q precisaria fazer um curso. Tem basicamente um controle remoto de televisor no alto dele.

E o mouse? Não sei como funciona. Não tem bola! Tem só uma luzinha vermelha embaixo. É desconfortável de usar. É preciso demais. Só faltou não ter fio.

(O mouse do computador ao lado do meu não tem fio. Imaginem minha cara de besta.)

Na verdade, acho q meu computador lá de casa é muito ruim. É um K6-2 muito ruinzinho. O Windows dá um monte de erro. O meu mouse é meio quebrado. As teclas do teclado são apagadas. E quando eu tô num pc bom, acho muito ruim.

Minha guitarra #1 é uma guitarra ruim. O braço é fino demais perto da pestana. Ela desafina com muita facilidade. O seletor de captadores falha pra caramba. Ela pesa feito chumbo. Uso cordas pesadas feito cabos de aço. Mas quando eu toco numa Fender top de linha, acho q é um instrumento péssimo e parece q não faz sentido pra mim. Meu som não sai dela.

Pq a gente se acostuma com coisas ruins? Pq será q a má qualidade das coisas fazem sentido pra gente depois de um tempo? Será q é por mera comodidade?