Babau do Pandeiro. Não sabe quem é? Eu também não sabia. Acredite: eu era mais feliz antes de saber. Me disseram que ele era um cara divertido que cantava e tocava pandeiro. Fato: ele não sabe cantar, não sabe tocar e eu não vi nada de engraçado nisso.
Eu perambulo por lugares por aí só pra ver o que a moçada anda fazendo. E ao ver o que esse pessoal anda fazendo, começo a me lembrar com saudade do tempo em que as pessoas achavam ridículas as roupas dos seus pais. Mas como desgraça pouca é bobagem, hoje eu vejo o pessoal usando roupas dos seus avós e com cortes de cabelo que devem ter sido feitos com tesouras cegas de jardim.
Os caras devem passar cera automotiva pros cabelos ficarem tão armados. Dreadlocks (é assim que se escreve?) são um show, tirando o fedor. Talvez a galera até curta o fedor. Cabelo maçaroca tipo dos Jackson 5 é lindo. Babau do Pandeiro é cult. Ter um All Star surrado é a glória. Eu quero morrer.
Certo, certo, eu sei que eu estou sendo um cara chato. Eu sei que Bush, Hitler e gente do tipo disseram que o legal é andar penteadinho, cheiroso, com os cadarços amarrados, ir à missa aos domingos e polir a fivela do cinto. Mas minha geração tem encontrado um jeito estúpido de lidar com o Hitler e Jesus disseram: eles entram solando com os dois pés nos tornozelos de gente careta como eu.
Você imagina o fedor que é um cabelo arapuca daqueles? Já pensou como deve ser desconfortável andar com um tênis tão velho que a sola é mais fina que as meias? Uma meia vermelha e outra verde, claro. Você já viu um metaleirinho todo de preto - com direito a um sobretudo - no meio do centro da cidade? Parece o Darth Vader. Outro dia vi um que tinha um sino pendurado na bota. Sim, uma bota. Em plena tarde fortalezense. Imagina o sino. Imagina o cara andando: bé-lém-blém, bé-lém-blém.
Não, eu não estou aqui pra dizer a eles que tirem essas roupas e vistam-se como fossem a uma missa. Eu só estou escrevendo isso pra dizer que o culto ao tosco é uma das muitas coisas que me faz ter vergonha da minha geração. Sinto vergonha de saber que as pessoas vão ver “filmes de arte” franceses. Na falta de talento pra se contar uma história original, preferem chocar o público. Filmes idiotas feitos por diretores e autores sem talento que se escoram única e exclusivamente em cenas com imagens fortes – como sexo selvagem, por exemplo. E depois os idiotas debatem exaustivamente sobre o filme. Meus amigos, vão transar. Como eu já disse em uma antiga poesia minha: não se deve discutir sobre sexo e filosofia. É melhor fazer do que discutir.
A impressão que eu tenho é que a minha geração cultua o tosco por pura falta de espaço dado a quem realmente sabe fazer as coisas. Tem pessoas que sabem pintar. Outras saber dançar. Outras conseguem realmente cantar sem playback. Sim, existem trabalhadores incansáveis, verdadeiros artistas que se esforçam pra apresentar um trabalho com cuidado e carinho. Existem pessoas que trazem a nós uma produção com muito esmero e que você quase pode sentir o cheiro do suor do trabalho delas. Elas ralaram pra te mostrar isso. Sim, ainda existem pessoas que se esforçam por um ideal muito elevado.
A tosqueira é um modo irresponsável de se fazer protesto. É irresponsável por fazer com que as pessoas parem. É melhor ficar parado rindo da tosqueira do que arranjar seus próprios meios de protestar e produzir.O culto ao tosco é um sintoma da covardia da minha geração.
E eu devo dizer que tenho um amigo inseparável: o dicionário Houaiss. É com um grande pesar que comunico que o Aurélio não faz mais parte do meu cotidiano. Houaiss me é menos sisudo, menos chato e até me diverte. Segundo o meu referido amigo, uma coisa tosca é uma coisa mal-acabada.
Certo, se eu já sabia o que era uma coisa tosca, você deve estar se perguntando por que raios eu fui ver isso no Houaiss. Fui só ter a certeza de que sou um cara preconceituoso pra caramba. Mas também serviu pra eu ter a certeza de que faço parte de uma geração de pessoas estúpidas.